quarta-feira, 29 de julho de 2009

O início

Meu interesse pelo assunto surgiu depois de uma viagem a trabalho no estado do Rio Grande do Sul onde eu, como fotógrafa e desenhista cartográfica do projeto “Atlas Literário das Regiões Brasileiras”, um historiador e a geógrafa responsável entrevistamos o professor Augusto Fischer e os escritores Pozenato e Luis Antonio de Assis Brasil. Percorremos as regiões das chamadas Colônias (imigrantes alemães e italianos), a região das antigas missões jesuíticas e depois a área do sul do estado, o pampa gaúcho. O que mais me fascinou foi o conhecimento dos gaúchos sobre sua história, pois, quando ao alugarmos um carro, o motorista, um rapaz de vinte e poucos anos foi nos contado ao longo do percurso toda a história da colonização do estado. Fiquei curiosa e perguntei se ele havia feito um curso da guia turístico ou se tivera orientações pela própria locadora de automóveis para melhor receber os turistas, a exemplo daqueles meninos do nordeste que nos "guiam" por Natal e Fortaleza, e ele me respondeu que apenas havia lido pela escola alguns romances de escritores “regionais” (desculpem a pecha – escritores detestam serem chamados assim). Fiquei encantada! Como leitora amadora, vi ali um caminho de aproximar as pessoas da História. Comecei a pesquisar por conta própria romances gaúchos desde José de Alencar com o Gaúcho até Assis Brasil com todos os seus livros, mais “muitos alguns” livros de crítica literária e, a História da colonização, desde os primeiros historiadores, Varnhagen, Capistrano, Aurélio Porto, até os mais atuais como Boris Fausto; documentos, fotos e óbviamente, mapas.

A partir desta pesquisa passei a procurar “fatos” históricos em livros acadêmicos (na minha opinião, geralmente chatos), como por exemplo, a independência do Brasil e os romances escritos onde o período era retratado “ficcionalmente”. Gastei e gasto "uma baba" em livros porque quando você está apaixonada, não vê custo, vê prazer.

Fui à Flip só para ouvir Assis Brasil e também participei como “penetra” de palestras com historiadores da Fundação Getúlio Vargas. Fiquei decepcionada...

Na Flip perguntei para Assis Brasil quais foram suas fontes primárias para escrever seus magníficos romances históricos - sou sua fã. Sua resposta seria importante para que eu pudesse começar o estudo sobre a História do Rio Grande. E ele respondeu: _ Eu já conheço bastante bem a História do Rio Grande!

Deus do céu! O que faz um artista se colocar em um trono celestial e supremo da criação artística?

Na FGV, vi os melhores historiadores - DOUTORES, as mentes geniais que admiro e leio, em uma guerra de egos entre História X Sociologia/Antropologia , que me fez sair da sala e achar que perdi meu tempo e dinheiro, porque faltei ao trabalho!

O que vejo e leio agora, me fez perceber que, entre o lugar do “pedestal” da verdade dos historiadores e o trono “supremo” dos escritores, encontramos... os JORNALISTAS!

Amigos: enquanto vocês brigam pelo podium, eles, os jornalistas, estão fazendo um trabalho melhor que todos vocês porque estão no melhor lugar do mundo: a mente do leitor!

Li “ O inimigo do rei” – jornalista;

Li “1808” – jornalista;

Li “O Coração do rei” – jornalista;

“ Olga” – jornalista;

1968” – jornalista;

Jornalistas, jornalistas e mais jornalistas...

Viva Sandra Jatahy Pesavento@ História & Literatura!

domingo, 26 de julho de 2009

CONTINUAÇÃO

...

No Brasil, Gilberto Velho (Sociologia da arte, 1971) levanta a “hipótese de que o romance é, entre todas as formas literárias, a que esta mais imediata e diretamente ligada às estruturas econômicas, às de troca e de produção para o mercado.”

Tanto o romance (ficcional) como a História ao mesmo tempo o modo narrativo de se expressar. Entretanto, existe uma contraposição de:

narrativa versus teoria e

literatura versus pensamento científico

ou seja,

narrativa – Romance (Literatura) - ficção ( imaginação )

X

teoria – pensamento científico(História) - historiografia ( realidade )

O historiador tem como objeto de estudo, a realidade passada e, como discurso escrito desse objeto ( realidade ), a historiografia. Sendo que o objeto – realidade passada (o que é dito - conteúdo) se relaciona com o Discurso – historiografia (como é dito - forma), de forma a sofrerem influências diretas e indiretas, da teoria literária; indiretamente, pois quaisquer das formas de “linguagem – fala, escrita, discurso ou textualidade” – permitem intuições que classificam o discurso histórico, seus fundamentos lógicos explicativos e a relação entre interpretação e explanação dele. Diretamente porque a moderna teoria literária “possui concepções que permitem discriminar a relação entre forma e conteúdo, que torna possível reconhecer tanto no discurso realista, quanto no ficcional, que a linguagem tanto é forma quanto conteúdo. A partir desse pré-suposto, a crítica historiográfica é capaz de perceber que a historiografia ‘constrói’ seu assunto.” . Do relatório White. NÃO É HITE ! Apesar deste texto estar se tornando uma masturbação mental.

Teremos, então, uma regra de três, onde a historiografia está para a forma assim como a prosa historiográfica e a prosa ficcional estão para o conteúdo:

Historiografia – forma

Real (prosa historiográfica) e fictício (romances)– conteúdo,

tornando a História e a Literatura um único “x” da questão:

Para Historiadores a literatura é, enfim, testemunho histórico.”

Hayden White

História e Literatura: embate ou associação?

“Inventar, não! O ideal é obter um máximo de realidade num máximo de adaptação.
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- A lenda dominante é que romance precisa ser documentário para ser romance.”
Marques Rebelo – O Trapicheiro, 1959

A aproximação das fronteiras entre História e Literatura está nos atuais debates acadêmicos, geram muitas interpretações e... divergências. Digamos, uma briga de muitos egos.

História é ciência e Literatura uma expressão artística e cultural. Muitos dirão: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.”

A arte como fenômeno social tem três vertentes: a que encara a obra como manifestação pura e simples da sensibilidade do artista; outra que é uma atividade lúdica, livre de preocupações utilitárias ou de condicionamentos exteriores, e a última, na qual é classificada como fenômeno social vinculada a uma sociedade e refletindo a visão do artista sobre o mundo em que vive. Como desenhista me coloco na primeira vertente, como artesã meus trabalhos se encaixam na segunda, porém, como leitora de romances acredito que o escritor é um ser social e que, independente de sua vontade, é influenciado e influencia seus leitores, com o que escreve: ou seja, sua literatura. Eu e Gyögy Lukács achamos isso. Não, não é o diretor de Star Wars.

A História, de forma generalizada, é uma Ciência e como tal, deve ser uma investigação metódica que estuda o desenvolvimento do homem no tempo. Porém...

Entendo que a História é antes de tudo “um artefato verbal, produto da linguagem” e assim sendo, um discurso histórico, é uma estrutura de linguagem. Assim, um historiador, também é influenciado pelo seu tempo histórico. Vide as inúmeras correntes e pensamento social e as várias tendências historiográficas.

P.S. As aspas são de Hayden White.

Se literatura e história são expressões lingüísticas, temos aí o ponto de ligação que fica mais visível no Realismo Literário do final do século XIX.

Gustave Flaubert (1821-1880), escritor francês, em Educação Sentimental (1870), (a citada na música de Leoni, não a que Wanessa Camargo canta, off course, que não deve nem saber que é o título de um livro) fala do período da revolução ocorrida na França no período de Luís Filipe, apesar da história ser sobre o caso amoroso do protagonista, que aliás, paira acima do conflito. É considerado um dos primeiros escritores realistas.

Outro grande escritor precursor neste “estilo” foi Honore de Balsac, conseguindo a maior mesclagem da literatura com a vida real, nos mostrando os costumes e tipos de seu tempo na obra A Comédia Humana(1850). Não sou eu quem diz, e sim, Paulo Rónai, na introdução do livro publicada pela Editora Globo.

Fala também, na página 32 do mesmo livro, que este tipo de literatura romanesca é encontrado desde 1814 nas obras de Walter Scott na Inglaterra, que “elevava o romance ao valor filosófico da História, unindo nele ‘o drama, o diálogo, o retrato, a paisagem, a descrição’, e introduzindo no gênero ‘o maravilhoso e o verdadeiro’, numa epopéia. Outros narrativas de Scott entram na categoria de romance histórico, (...) reconstruindo o ambiente através de pormenores, frutos de pacientes pesquisas.”

CONTINUA...

sábado, 25 de julho de 2009

Mais de mim



De tantas paixões, um livro e um mapa antigo fizeram da minha vida uma eterna viagem.


O cheiro das páginas novas de uma edição me inebria assim como a cor amarelada de papéis velhos me hipnotiza.


Sebos, mapotecas, museus; ruas do centro do Rio, ruas de Paraty; assoalho de tábuas ou telefones de disco me transportam no tempo.


Viajo pelas estradas dos mapas do Império no lombo de um burro, subindo cada curva de nível. Navego pelos mares e pelos rios em uma canoa caiçara.


Fui desenhista cartográfica e aos quarenta e cinco resolvi voltar a estudar escolhendo o curso de História por pura paixão. Sou leitora obcecada e por isso compradora compulsiva. O que significa que não leio tudo que compro. Também não lembro de tudo que leio, mas na maioria das vezes sei indicar algum livro quando me perguntam.


Escolhi morar em Paraty onde tem FLIP onde tem História. Existiria algum lugar melhor???