sexta-feira, 11 de setembro de 2009

CAGANDO NO MATINHO


A Historiadora fala da INDEPENDÊNCIA:

no início do mês de agosto de 1822, D. Pedro precisou viajar a São Paulo, sabendo das más notícias vindas da corte de Lisboa que o descreviam como :

Um mancebo vazio de experiência, arrebatado pelo amor da novidade e por um insaciável desejo de figurar, vacilante em principio, incoerente em ação, contraditório em palavras, a quem rebelião e obediência, prevaricação e interesse, inteligência e impostura, Constituição e despotismo, pela facilidade com que alternadamente os aprova e rejeita, são coisas ou indiferentes, ou distintas, ou desconhecidas.” Deputado Xavier Monteiro


Chega ao destino 11 dias depois onde também conhece e imediatamente dorme com sua futura amante, futura marquesa de Santos, Domitila, Parte para a cidade de Santos no dia 5 de setembro e na volta, dois dias depois, 7 de setembro, às quatro horas da tarde recebe o mensageiro da corte do Rio, Paulo Bregaro, com notícias urgentes de José Bonifácio e da sua esposa Leopoldina. As notícias contavam que novas resoluções de Lisboa anularam as medidas do gabinete de Bonifácio, além de determinar que D Pedro substituísse os ministros e nomeasse os que o rei determinasse, entre outras medidas.

“ - Senhor, o dado está lançado, e de Portugal não temos a esperar senão escravidão e horrores. Venha

V. A.R. o quanto antes e decida-se” J. Bonifácio

“ Quando recebeu esses documentos, às margens do riacho Ipiranga, d. Pedro, tomado de fúria, (puto *) amarrotou-os e pisou-os. Segundo conta o padre Belchior – um dos membros da comitiva que o acompanhava -, o príncipe estava afetado ‘ por uma disenteria que o obrigava a todo momento a apear-se para prover’. Depois, ‘abotoando-se e compondo a fardeta’, ele se reuniu com sua guarda e declarou:

Amigos, as Cortes portuguesas querem escravizar-nos e perseguem-nos. De hoje em diante nossas relações estão quebradas. Nenhum laço nos uni mais’. Arrancou do chapéu o laço azul e branco, símbolo da nação portuguesa, dizendo: ‘ Laços fora, soldados. Viva a independência, a liberdade e a separação do Brasil!’” 1

Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Serafim de Bragança e Bourbon


1. LUSTOSA, Isabel. D Pedro I: um herói sem nenhum caráter. Perfis brasileiros. SP: Companhia das Letras, 2006

* Regina Alonso


A jornalista romancista também fala da INDEPENDÊNCIA:

A “ficção narra a biografia” de Pedro através do relato do Frei Arrábida, um dos responsáveis pela educação do futuro monarca. A jornalista fez uma pesquisa histórica minuciosa para reconstruir a época e os acontecimentos políticos que coloca na voz do frei narrador:

“ Partiram com ele para São Paulo, em 14 de agosto, Luís Saldanha da Gama, depois Marques de Taubaté, o secretário particular Francisco Gomes da Silva, conhecido como Chalaça. O Alferes Francisco de Castro Canto e Melo, que teria na viagem um papel de cupido, o Tenente-coronel Joaquim Aranha Barreto de Carvalho e João Carlota. No meio do caminho, á medida que a comitiva parava para repouso em fazendas ou vilas, um numero sempre maior de homens se oferecia para a guarda de honra que, dez dias depois, no dia 24 de agosto chegou a São Paulo bem numerosa. E, pelo caminho, Pedro fez das suas proezas: atravessou o rio Paraíba a cavalo, chegou encharcado do outro lado, perguntou aos homens quem teria sua estatura e medidas, apresentou-se Adriano Gomes Vieira de Almeida, que com ele trocou de calções, honrado por servi-lo, e para sempre conhecido por seu gesto gentil.

[...] Chegou no dia 24 e no dia 29 estava numa cama nos braços de D. Domitila Castro Canto e Melo, irmã do Tenente Canto e Melo que com ele viera do Rio. [...] Estava reconfortado há vários dias nos braços de Domitila, quando decidiu viajar para Santos em 5 de setembro, a convite da família Andrada e para conhecer uma fábrica de munição.[...] Dali retornou no dia 7 e foi surpreendido no caminho por emissários vindo do Rio, Paulo Emílio Bregaro e Antônio Ramos Cordeiro. Em sua paixão por animais, Pedro percebeu que o cavalo montado por Bregaro estava esgotado – ‘se não arrebentar uma dúzia de cavalos no caminho, nunca mais será correio’, dissera Bonifácio ao jovem -, o que significava que era grave sua missão.

Bregaro tinha em mãos uma mala de couro com correspondência enviada por Bonifácio e D. Leopoldina. Quando encontrou a comitiva, estavam os homens e animais à beira do riacho por questão prosaica: haviam comido alguma coisa em santos que os fizera ter um disenteria. Por mia curioso que seja esse detalhe, considerando as noticias que iam receber e o que se passou a seguir, não conseguiu ofuscar para mim a decisão tomada por Pedro depois de ler o que lhe trazia o oficial.

Pedro abriu a mala de couro, tirou os papéis, escolheu os de Lisboa e ficou sabendo que as Cortes o haviam rebaixado de prícipe regente a delegado no Brasil, e apenas nas províncias onde exercesse autoridade, porque as demais ficariam subordinadas a Lisboa, que seria agora a sede do governo do Brasil e onde seriam nomeados os ministros do reino; os que fossem contrários a essas ordens das Cortes deveriam ser detidos e processados.

Havia duas cartas de Leopoldina, que ficara no rio como regente.[...]

A Carta de Bonifácio relatava os mesmos fatos, mas nela havia um apelo arrojado: ‘ Senhor, o dado está lançado[...] e decida-se, porque irresoluções e medidas d’água morna, à vista deste contrário que não nos poupa, para nada servem, e um momento perdido é uma desgraça’. [...]

Chalaça me contou que Pedro tremia de raiva quando terminou a leitura. Amarrotou os decretos, jogou-os ao chão, pisou sobre eles, em seguida ficou em silêncio. Também silenciosos à espera de sai reação ficaram todos ao seu redor, de modo que se podia ouvir o rumor da água mansa do Piranga a descer seu rumo. Então, e ao recordar aquele momento Chalaça ficava emocionado, Pedro caminhou em direção à guarda de honra, seguido pelos demais que não sabiam o que fazer, arrancou do chapéu o laço português azul e branco e gritou: ‘Laços fora, soldados! Viva a independência, a liberdade, a separação do Brasil.’ Desembainhou a espada, e jurou: ‘ Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil’. [...]

Em estado de euforia, montaram em seus animais e partiram para São Paulo. Mas antes, Pedro, também em seu animal, que não era um cavalo puro-sangue, mas uma besta de montaria que agüentava melhor as viagens, gritou para alegria da comitiva: ‘Brasileiros, a nossa divisa de hoje e, diante será Independência ou Morte !’ E partiu com todos muito contentes, e só uma artista da Missão Francesa, imaginando sua pintura para a cena, lamentaria que não estivesse montado num dos seus belos cavalos naquele momento.[...]

E, em Lisboa, o Soberano Congresso dormia tranqüilo sem imaginar a rasteira que lhe havia passado o rapazinho.”

SALLES, Iza. O coração do Rei.

SP: Editora Planeta do Brasil, 2008

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

exemplo prático de associação Lit & Hist - Agosto o mês do desgosto


A partir de agora postarei pequenos textos históricos e alguns trechos ficcionais.



TONELEROS - COPACABANA

"...Apesar dos pressões e da inexistência a essa altura de uma sólida base de apoio a seu governo, Getúlio se equilibrava no poder . Faltava a oposição um acontecimento suficientemente traumático que levasse as Forças Armadas a ultrapassar os limites da legalidade e depor o presidente. Esse acontecimento foi proporcionado pelo círculo dos íntimos do presidente. Aí se instalara a convicção de que era preciso remover Lacerda da cena política para garantir permanência de Getúlio no poder. Segundo mais tarde se apurou, figuras próximas a Getúlio sugeriram ao chefe da guarda presidencial do Palácio do Catete -Gregório Fortunato-que ele deveria "dar um jeito" em Lacerda.
... Se a idéia criminosa era desastrada, mais desastrada foi sua execução..."

História Concisa do Brasil
Boris Fausto


Mais em De Getúlio a Castelo, Thomas Skidmore

AGOSTO
Rubem Fonseca


Fonseca entremeia personagens e fatos históricos com a história ficcional de um comissário de polícia:

p.9
"... Sobre a cama estava um exemplar de Última Hora, o único jornal importante que defendia o presidente. Na primeira página, uma caricatura de Carlos Lacerda. O artista acentuava os óculos de aros escuros e o nariz aquilino do jornalista, desenhara um corvo sinistro trepado num poleiro. O Anjo Negro levantou o braço e cravou com força o punhal no desenho.
p.12 e 13
... Na madrugada desse primeiro de agosto, Zaratini, o mordomo do palácio, ao abrir uma das janelas qie dava para o jardim viu Gregório sentado num banco,...levantou-se e caminhou em direção ao prédio do alojamento da guarda pessoal...sentou-se a uma mesa no refeitório vazio....Nesse instante chegou Climério Euribes de Almeida...'alguma ordem, chefe?'
'Venha para minha sala'... Não queria conversar sobre aquele assunto na presença de outros, o lacerdismo era uma doença contagiosa pior do que sífilis ou gonorréia, ele não se surpreenderia se houvesse alguem infectado na guarda...
'Que diabo? Onde está o tal homem de confiança? Devíamos fazer o serviço em julho e já estamos em agosto'
...
Climério, nervoso: ' Deixa comigo, chefe'.
Na verdade, Climerio não tinha homem nenhum de confiaça para fazer o trabalho...a única pessoa que encontrara fora Alcino, um carpinteiro desempregado,...não era, certamente, uma pessoa qualificada.
p.54,55 e 56
'O dinheiro está garantido? E a casinha também?', perguntou Alcino.
...Pegaram um ônibus até o Meier, No Meier pegaram um táxi.
Rua Barão de Mesquita, disse Climério para o motorista. O destino final era o Colégio São Jose, onde o jornalista Lacerda faria uma palestra.
...'Esse Nelson é de confiança?', perguntou Alcino.
'Conheço ele muito tempo.Ele guarda o táxi na Silveira Martins...
Anoiteceu.
'O corvo acaba indo embora e o filha da puta do Nelson não aparece', disse Climério.
... Nelson chegou pouco depois das dez da noite.
Pararam numa rua transversal... Climério abriu a pasta de couro de onde tirou um revolver 45, que deu a Alcino.
...tremeram quando segurou a arma. Ele nunca tivera um 45 nas mãos.
...'É só aperta o gatilho'...o plano era matar o Lacerda assim que ele aparecesse. Os dois aproveitaria a confusão para fugir.
p.69 e 70
Grupos compactos de pessoas começaram a sair do Colégio São José. Nem Climério nem Alcino, que cuidadosamente perscrutavam o rosto de todos, conseguiram divisar o jornalista... e os dois voltaram para o táxi de Nelson.
'Puta merda! O homem já tinha ido embora. Está vendo o que você fez?...Vamos para a Rua Tonelero, em Copacabana, É lá que o Corvo mora.... Ele não podia voltar para Gregório e confessar mais um erro;..
O edifício do homem é aquele, disse Climério, já na rua Tonelero....
Climério e Alcino ficaram conversando uns quinze minutos. Iam desistir de esperar quando um carro parou na porta do edifício,... quarenta minutos depois da meia-noite. De dentro saltaram três pessoas. Lacerda, seu filho Sérgio, de quinze anos, e o major Vaz da Aeronáutica.
'É ele, você está vendo/'. disse Climério.
'O de óculos?'
'Claro que é o de óculos, porra! O outro é milico capanga dele.'
Lacerda se despediu do major e caminhou com o filho para a porta de garagem do edifício. Vaz foi em direção ao carro. Alcino atravessou a rua e atirou em Lacerda, que correu para o interior da garagem. O estrondo do revolver ao disparar surpreendeu Alcino, que por instantes ficou sem saber o que fazer. Notou então que o major se aproximara e agarrara sua arma. Novamente Alcino acionou o gatilho. O major continuou agarrando o cano do revólver até que Alcino, num repelão, soltou a arma dos dedos que a prendiam, caindo com o esforço que fizera. Viu que o major caíra também, para o outro lado. Alcino levantou-se e atirou novamente sem direção...fugiu para onde estava o táxi do Nelson.
... Dentro do táxi que corria em alta velocidade pela avenida Copacabana, Alcino embrulhou o revolver numa flanela amarela. Chegando ao Flamengo, disse a Nelson para seguir pela Avenida Beira mar, pois tinha instruções de \Climério pra se livrar da arma jogando-a ao mar. Sua intenção era fazer isso sem sair do carro
Na Altura da rua México, Alcino colocou o braço para fora, segurando o embrulho com o revolver, preparando-se para arremessá-lo ao mar... Inesperadamente, Nelson fez uma manobra para se livrar de um carro que vinha na contramão, assustando Alcino que largou o embrulho de flanela com o revolver.
'Deixei cair o revolver', gritou Alcino.
Nelson parou o carro. ' Vai lá apanhar'.
Alcino colocou a cabeça para fora da janela e olhou para o asfalto escuro da avenida. As luzes de um carro brilharam ao longe.
'Quem achar essa merda não vai entregar para a polícia. Um 45 vale muito dinheiro.'


Outro romance :
Getúlio
Juremir Machado da Silva

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O início

Meu interesse pelo assunto surgiu depois de uma viagem a trabalho no estado do Rio Grande do Sul onde eu, como fotógrafa e desenhista cartográfica do projeto “Atlas Literário das Regiões Brasileiras”, um historiador e a geógrafa responsável entrevistamos o professor Augusto Fischer e os escritores Pozenato e Luis Antonio de Assis Brasil. Percorremos as regiões das chamadas Colônias (imigrantes alemães e italianos), a região das antigas missões jesuíticas e depois a área do sul do estado, o pampa gaúcho. O que mais me fascinou foi o conhecimento dos gaúchos sobre sua história, pois, quando ao alugarmos um carro, o motorista, um rapaz de vinte e poucos anos foi nos contado ao longo do percurso toda a história da colonização do estado. Fiquei curiosa e perguntei se ele havia feito um curso da guia turístico ou se tivera orientações pela própria locadora de automóveis para melhor receber os turistas, a exemplo daqueles meninos do nordeste que nos "guiam" por Natal e Fortaleza, e ele me respondeu que apenas havia lido pela escola alguns romances de escritores “regionais” (desculpem a pecha – escritores detestam serem chamados assim). Fiquei encantada! Como leitora amadora, vi ali um caminho de aproximar as pessoas da História. Comecei a pesquisar por conta própria romances gaúchos desde José de Alencar com o Gaúcho até Assis Brasil com todos os seus livros, mais “muitos alguns” livros de crítica literária e, a História da colonização, desde os primeiros historiadores, Varnhagen, Capistrano, Aurélio Porto, até os mais atuais como Boris Fausto; documentos, fotos e óbviamente, mapas.

A partir desta pesquisa passei a procurar “fatos” históricos em livros acadêmicos (na minha opinião, geralmente chatos), como por exemplo, a independência do Brasil e os romances escritos onde o período era retratado “ficcionalmente”. Gastei e gasto "uma baba" em livros porque quando você está apaixonada, não vê custo, vê prazer.

Fui à Flip só para ouvir Assis Brasil e também participei como “penetra” de palestras com historiadores da Fundação Getúlio Vargas. Fiquei decepcionada...

Na Flip perguntei para Assis Brasil quais foram suas fontes primárias para escrever seus magníficos romances históricos - sou sua fã. Sua resposta seria importante para que eu pudesse começar o estudo sobre a História do Rio Grande. E ele respondeu: _ Eu já conheço bastante bem a História do Rio Grande!

Deus do céu! O que faz um artista se colocar em um trono celestial e supremo da criação artística?

Na FGV, vi os melhores historiadores - DOUTORES, as mentes geniais que admiro e leio, em uma guerra de egos entre História X Sociologia/Antropologia , que me fez sair da sala e achar que perdi meu tempo e dinheiro, porque faltei ao trabalho!

O que vejo e leio agora, me fez perceber que, entre o lugar do “pedestal” da verdade dos historiadores e o trono “supremo” dos escritores, encontramos... os JORNALISTAS!

Amigos: enquanto vocês brigam pelo podium, eles, os jornalistas, estão fazendo um trabalho melhor que todos vocês porque estão no melhor lugar do mundo: a mente do leitor!

Li “ O inimigo do rei” – jornalista;

Li “1808” – jornalista;

Li “O Coração do rei” – jornalista;

“ Olga” – jornalista;

1968” – jornalista;

Jornalistas, jornalistas e mais jornalistas...

Viva Sandra Jatahy Pesavento@ História & Literatura!

domingo, 26 de julho de 2009

CONTINUAÇÃO

...

No Brasil, Gilberto Velho (Sociologia da arte, 1971) levanta a “hipótese de que o romance é, entre todas as formas literárias, a que esta mais imediata e diretamente ligada às estruturas econômicas, às de troca e de produção para o mercado.”

Tanto o romance (ficcional) como a História ao mesmo tempo o modo narrativo de se expressar. Entretanto, existe uma contraposição de:

narrativa versus teoria e

literatura versus pensamento científico

ou seja,

narrativa – Romance (Literatura) - ficção ( imaginação )

X

teoria – pensamento científico(História) - historiografia ( realidade )

O historiador tem como objeto de estudo, a realidade passada e, como discurso escrito desse objeto ( realidade ), a historiografia. Sendo que o objeto – realidade passada (o que é dito - conteúdo) se relaciona com o Discurso – historiografia (como é dito - forma), de forma a sofrerem influências diretas e indiretas, da teoria literária; indiretamente, pois quaisquer das formas de “linguagem – fala, escrita, discurso ou textualidade” – permitem intuições que classificam o discurso histórico, seus fundamentos lógicos explicativos e a relação entre interpretação e explanação dele. Diretamente porque a moderna teoria literária “possui concepções que permitem discriminar a relação entre forma e conteúdo, que torna possível reconhecer tanto no discurso realista, quanto no ficcional, que a linguagem tanto é forma quanto conteúdo. A partir desse pré-suposto, a crítica historiográfica é capaz de perceber que a historiografia ‘constrói’ seu assunto.” . Do relatório White. NÃO É HITE ! Apesar deste texto estar se tornando uma masturbação mental.

Teremos, então, uma regra de três, onde a historiografia está para a forma assim como a prosa historiográfica e a prosa ficcional estão para o conteúdo:

Historiografia – forma

Real (prosa historiográfica) e fictício (romances)– conteúdo,

tornando a História e a Literatura um único “x” da questão:

Para Historiadores a literatura é, enfim, testemunho histórico.”

Hayden White

História e Literatura: embate ou associação?

“Inventar, não! O ideal é obter um máximo de realidade num máximo de adaptação.
.......................................................................................
- A lenda dominante é que romance precisa ser documentário para ser romance.”
Marques Rebelo – O Trapicheiro, 1959

A aproximação das fronteiras entre História e Literatura está nos atuais debates acadêmicos, geram muitas interpretações e... divergências. Digamos, uma briga de muitos egos.

História é ciência e Literatura uma expressão artística e cultural. Muitos dirão: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.”

A arte como fenômeno social tem três vertentes: a que encara a obra como manifestação pura e simples da sensibilidade do artista; outra que é uma atividade lúdica, livre de preocupações utilitárias ou de condicionamentos exteriores, e a última, na qual é classificada como fenômeno social vinculada a uma sociedade e refletindo a visão do artista sobre o mundo em que vive. Como desenhista me coloco na primeira vertente, como artesã meus trabalhos se encaixam na segunda, porém, como leitora de romances acredito que o escritor é um ser social e que, independente de sua vontade, é influenciado e influencia seus leitores, com o que escreve: ou seja, sua literatura. Eu e Gyögy Lukács achamos isso. Não, não é o diretor de Star Wars.

A História, de forma generalizada, é uma Ciência e como tal, deve ser uma investigação metódica que estuda o desenvolvimento do homem no tempo. Porém...

Entendo que a História é antes de tudo “um artefato verbal, produto da linguagem” e assim sendo, um discurso histórico, é uma estrutura de linguagem. Assim, um historiador, também é influenciado pelo seu tempo histórico. Vide as inúmeras correntes e pensamento social e as várias tendências historiográficas.

P.S. As aspas são de Hayden White.

Se literatura e história são expressões lingüísticas, temos aí o ponto de ligação que fica mais visível no Realismo Literário do final do século XIX.

Gustave Flaubert (1821-1880), escritor francês, em Educação Sentimental (1870), (a citada na música de Leoni, não a que Wanessa Camargo canta, off course, que não deve nem saber que é o título de um livro) fala do período da revolução ocorrida na França no período de Luís Filipe, apesar da história ser sobre o caso amoroso do protagonista, que aliás, paira acima do conflito. É considerado um dos primeiros escritores realistas.

Outro grande escritor precursor neste “estilo” foi Honore de Balsac, conseguindo a maior mesclagem da literatura com a vida real, nos mostrando os costumes e tipos de seu tempo na obra A Comédia Humana(1850). Não sou eu quem diz, e sim, Paulo Rónai, na introdução do livro publicada pela Editora Globo.

Fala também, na página 32 do mesmo livro, que este tipo de literatura romanesca é encontrado desde 1814 nas obras de Walter Scott na Inglaterra, que “elevava o romance ao valor filosófico da História, unindo nele ‘o drama, o diálogo, o retrato, a paisagem, a descrição’, e introduzindo no gênero ‘o maravilhoso e o verdadeiro’, numa epopéia. Outros narrativas de Scott entram na categoria de romance histórico, (...) reconstruindo o ambiente através de pormenores, frutos de pacientes pesquisas.”

CONTINUA...

sábado, 25 de julho de 2009

Mais de mim



De tantas paixões, um livro e um mapa antigo fizeram da minha vida uma eterna viagem.


O cheiro das páginas novas de uma edição me inebria assim como a cor amarelada de papéis velhos me hipnotiza.


Sebos, mapotecas, museus; ruas do centro do Rio, ruas de Paraty; assoalho de tábuas ou telefones de disco me transportam no tempo.


Viajo pelas estradas dos mapas do Império no lombo de um burro, subindo cada curva de nível. Navego pelos mares e pelos rios em uma canoa caiçara.


Fui desenhista cartográfica e aos quarenta e cinco resolvi voltar a estudar escolhendo o curso de História por pura paixão. Sou leitora obcecada e por isso compradora compulsiva. O que significa que não leio tudo que compro. Também não lembro de tudo que leio, mas na maioria das vezes sei indicar algum livro quando me perguntam.


Escolhi morar em Paraty onde tem FLIP onde tem História. Existiria algum lugar melhor???