“Inventar, não! O ideal é obter um máximo de realidade num máximo de adaptação.
.......................................................................................
- A lenda dominante é que romance precisa ser documentário para ser romance.”
Marques Rebelo – O Trapicheiro, 1959
A aproximação das fronteiras entre História e Literatura está nos atuais debates acadêmicos, geram muitas interpretações e... divergências. Digamos, uma briga de muitos egos.
História é ciência e Literatura uma expressão artística e cultural. Muitos dirão: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.”
A arte como fenômeno social tem três vertentes: a que encara a obra como manifestação pura e simples da sensibilidade do artista; outra que é uma atividade lúdica, livre de preocupações utilitárias ou de condicionamentos exteriores, e a última, na qual é classificada como fenômeno social vinculada a uma sociedade e refletindo a visão do artista sobre o mundo em que vive. Como desenhista me coloco na primeira vertente, como artesã meus trabalhos se encaixam na segunda, porém, como leitora de romances acredito que o escritor é um ser social e que, independente de sua vontade, é influenciado e influencia seus leitores, com o que escreve: ou seja, sua literatura. Eu e Gyögy Lukács achamos isso. Não, não é o diretor de Star Wars.
A História, de forma generalizada, é uma Ciência e como tal, deve ser uma investigação metódica que estuda o desenvolvimento do homem no tempo. Porém...
Entendo que a História é antes de tudo “um artefato verbal, produto da linguagem” e assim sendo, um discurso histórico, é uma estrutura de linguagem. Assim, um historiador, também é influenciado pelo seu tempo histórico. Vide as inúmeras correntes e pensamento social e as várias tendências historiográficas.
P.S. As aspas são de Hayden White.
Se literatura e história são expressões lingüísticas, temos aí o ponto de ligação que fica mais visível no Realismo Literário do final do século XIX.
Gustave Flaubert (1821-1880), escritor francês, em Educação Sentimental (1870), (a citada na música de Leoni, não a que Wanessa Camargo canta, off course, que não deve nem saber que é o título de um livro) fala do período da revolução ocorrida na França no período de Luís Filipe, apesar da história ser sobre o caso amoroso do protagonista, que aliás, paira acima do conflito. É considerado um dos primeiros escritores realistas.
Outro grande escritor precursor neste “estilo” foi Honore de Balsac, conseguindo a maior mesclagem da literatura com a vida real, nos mostrando os costumes e tipos de seu tempo na obra A Comédia Humana(1850). Não sou eu quem diz, e sim, Paulo Rónai, na introdução do livro publicada pela Editora Globo.
Fala também, na página 32 do mesmo livro, que este tipo de literatura romanesca é encontrado desde 1814 nas obras de Walter Scott na Inglaterra, que “elevava o romance ao valor filosófico da História, unindo nele ‘o drama, o diálogo, o retrato, a paisagem, a descrição’, e introduzindo no gênero ‘o maravilhoso e o verdadeiro’, numa epopéia. Outros narrativas de Scott entram na categoria de romance histórico, (...) reconstruindo o ambiente através de pormenores, frutos de pacientes pesquisas.”
CONTINUA...
Nenhum comentário:
Postar um comentário