quinta-feira, 27 de agosto de 2009

exemplo prático de associação Lit & Hist - Agosto o mês do desgosto


A partir de agora postarei pequenos textos históricos e alguns trechos ficcionais.



TONELEROS - COPACABANA

"...Apesar dos pressões e da inexistência a essa altura de uma sólida base de apoio a seu governo, Getúlio se equilibrava no poder . Faltava a oposição um acontecimento suficientemente traumático que levasse as Forças Armadas a ultrapassar os limites da legalidade e depor o presidente. Esse acontecimento foi proporcionado pelo círculo dos íntimos do presidente. Aí se instalara a convicção de que era preciso remover Lacerda da cena política para garantir permanência de Getúlio no poder. Segundo mais tarde se apurou, figuras próximas a Getúlio sugeriram ao chefe da guarda presidencial do Palácio do Catete -Gregório Fortunato-que ele deveria "dar um jeito" em Lacerda.
... Se a idéia criminosa era desastrada, mais desastrada foi sua execução..."

História Concisa do Brasil
Boris Fausto


Mais em De Getúlio a Castelo, Thomas Skidmore

AGOSTO
Rubem Fonseca


Fonseca entremeia personagens e fatos históricos com a história ficcional de um comissário de polícia:

p.9
"... Sobre a cama estava um exemplar de Última Hora, o único jornal importante que defendia o presidente. Na primeira página, uma caricatura de Carlos Lacerda. O artista acentuava os óculos de aros escuros e o nariz aquilino do jornalista, desenhara um corvo sinistro trepado num poleiro. O Anjo Negro levantou o braço e cravou com força o punhal no desenho.
p.12 e 13
... Na madrugada desse primeiro de agosto, Zaratini, o mordomo do palácio, ao abrir uma das janelas qie dava para o jardim viu Gregório sentado num banco,...levantou-se e caminhou em direção ao prédio do alojamento da guarda pessoal...sentou-se a uma mesa no refeitório vazio....Nesse instante chegou Climério Euribes de Almeida...'alguma ordem, chefe?'
'Venha para minha sala'... Não queria conversar sobre aquele assunto na presença de outros, o lacerdismo era uma doença contagiosa pior do que sífilis ou gonorréia, ele não se surpreenderia se houvesse alguem infectado na guarda...
'Que diabo? Onde está o tal homem de confiança? Devíamos fazer o serviço em julho e já estamos em agosto'
...
Climério, nervoso: ' Deixa comigo, chefe'.
Na verdade, Climerio não tinha homem nenhum de confiaça para fazer o trabalho...a única pessoa que encontrara fora Alcino, um carpinteiro desempregado,...não era, certamente, uma pessoa qualificada.
p.54,55 e 56
'O dinheiro está garantido? E a casinha também?', perguntou Alcino.
...Pegaram um ônibus até o Meier, No Meier pegaram um táxi.
Rua Barão de Mesquita, disse Climério para o motorista. O destino final era o Colégio São Jose, onde o jornalista Lacerda faria uma palestra.
...'Esse Nelson é de confiança?', perguntou Alcino.
'Conheço ele muito tempo.Ele guarda o táxi na Silveira Martins...
Anoiteceu.
'O corvo acaba indo embora e o filha da puta do Nelson não aparece', disse Climério.
... Nelson chegou pouco depois das dez da noite.
Pararam numa rua transversal... Climério abriu a pasta de couro de onde tirou um revolver 45, que deu a Alcino.
...tremeram quando segurou a arma. Ele nunca tivera um 45 nas mãos.
...'É só aperta o gatilho'...o plano era matar o Lacerda assim que ele aparecesse. Os dois aproveitaria a confusão para fugir.
p.69 e 70
Grupos compactos de pessoas começaram a sair do Colégio São José. Nem Climério nem Alcino, que cuidadosamente perscrutavam o rosto de todos, conseguiram divisar o jornalista... e os dois voltaram para o táxi de Nelson.
'Puta merda! O homem já tinha ido embora. Está vendo o que você fez?...Vamos para a Rua Tonelero, em Copacabana, É lá que o Corvo mora.... Ele não podia voltar para Gregório e confessar mais um erro;..
O edifício do homem é aquele, disse Climério, já na rua Tonelero....
Climério e Alcino ficaram conversando uns quinze minutos. Iam desistir de esperar quando um carro parou na porta do edifício,... quarenta minutos depois da meia-noite. De dentro saltaram três pessoas. Lacerda, seu filho Sérgio, de quinze anos, e o major Vaz da Aeronáutica.
'É ele, você está vendo/'. disse Climério.
'O de óculos?'
'Claro que é o de óculos, porra! O outro é milico capanga dele.'
Lacerda se despediu do major e caminhou com o filho para a porta de garagem do edifício. Vaz foi em direção ao carro. Alcino atravessou a rua e atirou em Lacerda, que correu para o interior da garagem. O estrondo do revolver ao disparar surpreendeu Alcino, que por instantes ficou sem saber o que fazer. Notou então que o major se aproximara e agarrara sua arma. Novamente Alcino acionou o gatilho. O major continuou agarrando o cano do revólver até que Alcino, num repelão, soltou a arma dos dedos que a prendiam, caindo com o esforço que fizera. Viu que o major caíra também, para o outro lado. Alcino levantou-se e atirou novamente sem direção...fugiu para onde estava o táxi do Nelson.
... Dentro do táxi que corria em alta velocidade pela avenida Copacabana, Alcino embrulhou o revolver numa flanela amarela. Chegando ao Flamengo, disse a Nelson para seguir pela Avenida Beira mar, pois tinha instruções de \Climério pra se livrar da arma jogando-a ao mar. Sua intenção era fazer isso sem sair do carro
Na Altura da rua México, Alcino colocou o braço para fora, segurando o embrulho com o revolver, preparando-se para arremessá-lo ao mar... Inesperadamente, Nelson fez uma manobra para se livrar de um carro que vinha na contramão, assustando Alcino que largou o embrulho de flanela com o revolver.
'Deixei cair o revolver', gritou Alcino.
Nelson parou o carro. ' Vai lá apanhar'.
Alcino colocou a cabeça para fora da janela e olhou para o asfalto escuro da avenida. As luzes de um carro brilharam ao longe.
'Quem achar essa merda não vai entregar para a polícia. Um 45 vale muito dinheiro.'


Outro romance :
Getúlio
Juremir Machado da Silva

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